Repara só no poder do teu sorriso. Sim! Do teu!
Seja ele mais fechado ou rasgado, revele ele uma espécie de ladrilhos brancos impecavelmente perfilados ou denuncie aquela peça fora de sítio, naquele desalinho que o torna tão especial, esse teu sorriso é poderoso.
É que, quando sorris, todo o teu corpo vira ginásio e uma imensidão de músculos são contraídos. E quando uma gargalhada desponta, o teu cérebro vira pista de dança para neurotransmissores, e bolas de espelho em forma de dopamina acompanham o ritmo de um coração que bate (mesmo), ativando a circulação sanguínea, oxigenando cada bocadinho de ser, assegurando-te da vida que trazes em ti.
E já reparaste que, quando sorris, o teu rosto ganha vida, os olhos enchem-se de brilho, as maçãs do rosto emergem e o queixo ganha um destaque geometricamente enquadrado, numa harmonização facial instantânea e gratuita, daquelas, naturais, que não plastificam, de forma standardizada, a emoção?
E quando sorris, abrem-se as cortinas da tua alma e mostras a melhor versão daquilo que sabes ser, mesmo que, por vezes, a prefiras esconder; mesmo que, por vezes, essa versão insista em esconder-se até de ti; mesmo que, por vezes, te convenças de que ela já se evadiu daí de dentro, sem aviso prévio e sem deixar pistas que te levem no seu encalço. Mas, escuta: se até os foragidos de Vale de Judeus foram encontrados, essa tua versão não poderá fugir, assim, sem mais nem menos, por muito mais tempo…
O sorriso é uma espécie de código postal que encurta a distância entre pessoas, uma via rápida para a empatia, que derruba barreiras e, em jeito de bandeira branca, avisa o outro que não lhe és um perigo. E quando ris e sorris, contagias o mundo à tua volta, viras farol sem que te apercebas, tornas-te luz no fundo de um qualquer túnel, despontas um feixe luminoso por entre a fenda no peito enpedernido de alguém e podes virar GPS, certeiro e providente, mesmo sem necessidade de instruções robotizadas.
O teu sorriso pode não mudar o mundo, mas haverá, certamente, muitos mundos a precisar dele. A começar pelo teu. Por isso, mesmo que não te apeteça, mesmo nos dias em que sintas que uma espécie de corda atada a um bloco de betão te puxa para o lodo do fundo de um lago escuro, sorri. Porque um sorriso pode, simplesmente, ser a bóia que nos mantém à tona, na espuma dos dias, ou virar bote que nos leva a bom porto.
Rir e sorrir é o melhor dos remédios, não te esqueças! E não vem nem com contratos de letras pequenas, nem com bula de contra-indicações. Por isso, usa-o em doses generosas e várias vezes ao dia. Acredita: o teu sorriso é mesmo poderoso!
(Publicado no Diário de Leiria, 14 de Março de 2025)