domingo, 24 de abril de 2011

Crónica dos Dias - Domingo de Páscoa

"Nasci a um domingo de Páscoa. O meu 11º aniversário também coincidiu com essa data, depois... nunca mais.
Isto sempre me fez confusão: deveria haver uma lógica, uma regularidade na “data móvel” da Páscoa...Para mim isto era ainda mais estranho por ter aprendido que se celebrava a morte e ressureição de Jesus Cristo e todas as mortes que conheço têm uma data fixa!...Outra coisa que me intrigava era o facto de se falar de Páscoa judaica, quando eu tinha aprendido que os judeus não aceitaram Cristo como o filho de Deus...Será que a Páscoa não era uma data só cristã?
Foram então estas as questões que resolvi pesquisar nesta Crónica de Abril, aproveitando a oportunidade que estas crónicas me dão de perseguir e esclarecer as minhas dúvidas sobre os dias assinalados nos calendários.
Então cá vai o resultado da pesquisa:
Parece que sempre se celebrou a Páscoa, ou pelo menos perdeu-se no tempo o início das celebrações (pagãs) ligadas ao equinócio da Primavera e a uma deusa da fertilidade cultuada pelos povos germânicos, Eostre ou Ishtar, nome que parece ter dado origem à designação de Páscoa nas línguas germânicas: “Easter”.
Já a designação latina de Páscoa parece ter origem directa na festa judaica “Pesach” (ou a Páscoa judaica).Esta festa, uma das mais importantes do calendário judeu, comemora a libertação do povo de Israel da escravidão a que estava sujeito no Egipto. Segundo a tradição judaica foi nesta altura que Deus libertou o povo de Israel, que, liderado por Moisés, protagonizou o “êxodo” através do deserto. A forma erudita de perceber esta tradição é lendo o livro do Êxodo do Antigo Testamento bíblico, a forma mais “light” será vendo o filme que a Disney fez há alguns anos intitulado “O Príncipe do Egipto”.
Nos primeiros tempos desta festa judaica (que ainda hoje se celebra) faziam-se sacrifícios de cordeiros no templo de Jerusalém.
Para alguns estudiosos do Cristianismo a morte de Cristo aconteceu, de forma propositada, na Páscoa (Pesach) pois Jesus Cristo é considerado o “Cordeiro de Deus” imolado para a salvação do pecado, cujo sangue significaria uma nova aliança entre o divino e os homens. A ressurreição de Cristo ocorrida a um domingo justifica o abandono do sábado judeu como dia de descanço.
Até aqui já consegui perceber a existência da Páscoa Cristã, da Páscoa Judaica e da ligação entre elas, mas, porque é que a data não é sempre a mesma?
O dia de Páscoa é o primeiro domingo depois da lua cheia que marca o equinócio da Primavera. Tudo isto foi assumido e organizado pela Igreja Católica no Concílio de Niceia, em 325 (d.C., obviamente).Mas, para fazer uma tabela definitiva, a Igreja serviu-se não da verdadeira lua, mas de uma lua imaginária, conhecida por “lua eclesiástica”(!).
A quarta-feira de cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa, dando início ao período religioso da Quaresma. A Páscoa foi definida como uma data móvel, sempre entre as datas de 22 de Março e 24 de Abril. Com a fixação do (nosso) calendário gregoriano, em 1582, a sequência das datas da Páscoa foi fixada num ciclo de, aproximadamente, 5.700.000 anos.
Segundo as tabelas que encontrei não voltarei a fazer anos num domingo de Páscoa, mas já consegui deslindar (um pouco) toda esta amálgama de datas e simbolismos misturados.
Então, sintetizando, na Páscoa assinala-se simultaneamente, conforme os credos:
1- a chegada da Primavera, celebrada como tempo de renovação, de reflorescimento, de acasalamento, de fertilidade, cuja símbologia ainda permanece no coelho e nos ovos de Páscoa. Aqui fiquei muito mais tranquila por poder afastar a ideia de uma ligação anti-natura entre uma galinha e um coelho de que resultariam os ovos coloridos; afinal, parece ser uma tradição pagã, popularizada por imigrantes alemães na América que escondiam ovos em tocas de coelhos, que deveriam ser procurados na manhã do domingo de Páscoa, (enfim, são as tradições da pátria de George W. Bush!).
2- O Pessach: conjunto de rituais da religião judaica que assinalam a passagem da escravatura para a liberdade do povo de Israel (hebreus ou judeus).
3- A morte e ressureição de Jesus Cristo, que, por insondáveis desígnios da Igreja Católica, se “fixou” como uma “data móvel”.
E pronto, aqui fica o resultado de mais uma pesquisa sobre os dias, que me deu a oportunidade de esclarecer um pouco as dúvidas (que há anos arrasto) sobre um dia de Abril, que foi também o do meu nascimento."
L.C.