segunda-feira, 13 de abril de 2009

No Teu Poema

No Teu Poema

Existe um verso em branco e sem medida

Um corpo que respira, um ceu aberto

Janela debruçada para a vida



No teu poema

Existe a dor calada lá no fundo

Passo da coragem em casa escura

E, aberta, uma varanda para o mundo

Existe a noite

O riso, e a voz refeita à luz do dia

A festa da Senhora da Agonia

E o cansaço do corpo

Que adormece em cama fria


Existe um rio

A sina de quem nasce fraco ou forte

O risco, a raiva e a luta

De quem cai ou que resiste

Que vence ou adormece antes da morte



No teu poema

Existe o grito e o eco da metralha

A dor que sei de cor, mas não recito

E os sonos inquietos de quem falha


No teu poema

Existe um cantochão alentejano

A rua e o pregão de uma varina

E um barco, assoprado a todo o pano



Existe um rio

O canto em vozes juntas, vozes certas

Canção de uma só letra e um só destino

A embarcar no cais

Da nova nau das Descobertas



Existe um rio

A sina de quem nasce fraco ou forte

O risco, a raiva e a luta

De quem cai ou que resiste

Que vence ou adormece antes da morte



No teu poema

Existe a esperança acesa atrás do muro

Existe tudo o mais que ainda me escapa

E um verso em branco

À espera...

Do futuro.



Poema e música de José Luis Tinoco, para a voz de Carlos do Carmo (Festival da Canção, Portugal, 1976)

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