No Teu Poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um ceu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
Passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo
Existe a noite
O riso, e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço do corpo
Que adormece em cama fria
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor, mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco, assoprado a todo o pano
Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino
A embarcar no cais
Da nova nau das Descobertas
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda me escapa
E um verso em branco
À espera...
Do futuro.
Poema e música de José Luis Tinoco, para a voz de Carlos do Carmo (Festival da Canção, Portugal, 1976)
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário