segunda-feira, 20 de julho de 2009

Os paraísos artificiais

"Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são prédios altos
com renda muito mais alta.

Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para
desenraizar as árvores.

O cântico das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º.
E a música do vento frio nos pardieiros.

Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.

A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito."


Jorge de Sena, retirado de Pedra Filosofal

Outra contribuição do André para este blogue. Obrigada!

1 comentário:

Soldado disse...

Obrigado!
É um previlegio poder participar nesta pequena recolha depoemas de poetas naconais...
Felicidades para o Blogue...